terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Luto somos nós

Apraz-me hoje falar de lutos. Está um dia bonito, um dia de sol. O luto é naturalmente a primeira coisa que vem à cabeça.

Fosse o tema tratado com a leviandade com que corre nas bocas do mundo, a afirmação acima seria um tanto ou quanto piadética.



O luto.

Falo de lutos pessoais, não de lutos impostos e vividos em sociedade. De outros lutos tamanhos, que doem tremendamente de tão próximos e que só fazem sentido por serem única e exclusivamente nossos.

Todos já passámos por isso. Já todos perecemos por alguém e já todos em silêncio escondido sofremos por nós mesmos.

Amargurar por alguém ou por algo que já não é, custa, é mau e dói quanto baste, mas é quase a regra, faz aprender e um dia no fim faz crescer e até voar x).

O tema do luto pelo outro já deu o que tinha a dar. Já toda a gente ouviu falar e não tem interesse porque já não faz sequer pensar.

Ora... O sofrimento que parte de nós e em nós se fica, que nos tortura incansavelmente o espírito, esse sim!, pouco falado, quase que oprimido, desperta a curiosidade e faz matutar.

Quando sofremos por nós, pelo romance fantasiado em que nos tinhamos, por quem éramos e um dia percebemos que deixámos de ser, é preciso aprender que, não digo todos os dias, mais aí de semana e semana, evoluímos e crescemos.

O que há uma semana tínhamos como verdade tão certa e segura, começa hoje a ceder para na próxima se tornar certeza numa outrora mentira.

É verdade, não deixa de ser chocante, eu sei. Mas continua a ser verdade que crescemos e que os pequenos grandes lutos que fazemos dentro de nós são uma mais valia tanto para o auto-conhecimento como para a atitude com que nos enfrentamos e ao Mundo.

Porque não somos 1 poço de virtude, não somos santos e por vezes não sabemos sequer se somos "filhos de Deus", pensar o mal pode doer.
Hoje acreditar menos na bondade, perder uma pequena parte da inocência com que ao mundo viemos e crer também que o mal existe e anda nas ruas à espreita, faz parte desse luto de que falo. Do que é nosso e só a nós pertence.

Perceber um dia que afinal não somos o super-Homem, que também nós erramos, não detemos verdades absolutas e não somos capazes de fazer tudo ao mesmo tempo com uma ou duas pernas às costa e a planar, nem de salvar toda a gente.

Temos limites, é verdade, é chocante, eu sei. Mas temos.

É aqui que o luto entra, o reconhecimento de que os demónios pessoais existem e não vão desaparecer por evitarmos pensar neles. Crescer é inevitável e lidar connosco mesmos e com as humanas fragilidades que tanto nos definem, é, além de necessário, saudavel e bastante recomendável.

Depois disto, depois de crescermos mais um dia, apreciar um Sol como o de hoje torna-se especial. Sendo o Sol para todos e não pertencendo ainda assim a ninguém, olhá-lo hoje tem sabor a Conquista.
Aceitando mais hoje aquilo em que aos poucos nos tornamos (não somos todos uns diabos! não levemos isto ao extremo) e aprendendo a apreciarmo-nos comos somos, sem attachments de qualquer espécie, é como se deve olhar, na minha opinião, o Sol.




mI

1st photo: "Vorrei" by Smokedval
2nd photo: "Imaginary Hero" by EvilxElf
3rd photo: "O Dear What Have I Done?" by Tracie
4th photo: "Speak Your Mind" by Tracie

Sem comentários: