sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Momentos inexistenciais

Existem momentos em que nos emocionamos. Existem também momentos em que existimos apenas e, em condições extremas, momentos em que não sentimos nem tão pouco existimos.

És tão fragil. Hoje, numa normal tarde de Verão, saido inocentemente da praia amena, a existência que achavas tua podia ter-se ali ficado.

Gerou-se 1 turbilhão à tua volta. Tu não sentiste.
Naquele momento deixaste de existir, não sentiste pânico nem medo. Paraste simplesmente no tempo. Não perdeste o fôlego, em boa verdade nunca respiraste.
Naquele momento foste tu apenas, nu, completamente nu, reduzido à tua marcada e monótona inconsistência.

O turbilhão acalmou suave. Voltaste.

Olhas à tua volta, mas ainda não vês.
Tens a oportunidade de começar de novo, de te levantares e de gritares bem alto, de estar aqui estando de facto e mais que olhando, vendo, sentindo, guardando, expulsando.

E o que fazes?
Abandomas levemente a nudez da alma e voltas ao conforto que te tanto te acalma.
À rotina juraste fidelidade. É confortável esquecer, é confortável não existir, não ser. Humilde no objectivo final, percorres presunçoso o caminho que se traça à tua frente.
Tinhas obrigação. Tinhas obrigação de ser mais, de sonhar mais alto, de pensar mais além, de existir tão plena e intensamente quão abrangente a existência pode ser.

O que és hoje não chega. Não te enganes, não sentes.


mI


photo: No RIP, by Vladimir Borowicz