segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desenhando a sós

Hoje acordei cedo, já cansada, meio ensonada, no fundo um pouco atordoada.

Durante o dia segui, com uma calma angustiante, silenciosa e desgastante, o rumo traçado, deste caminho por mim desenhado.

Durante todo o dia, envolta numa bruma de tons violeta e cinzento, rodopiei em espiral num vazio de emoções, em ritmo agitado, sem nunca perder o equilíbrio, por nunca olhar para o lado.

Estive hoje, durante várias horas, sentada naquela sala.
Várias pessoas entraram, desabafaram, partilharam... Estabeleci uma, duas, vinte relações, mais, breves mas firmes conexões.
Empatia.
E assim corre o dia, elas partilham, dão de si o que sabem e podem, eu ouço e retribuo na moeda empática que é única, dou-lhes um pouco do seu próprio feedback, entrego-as a si mesmas, sinto orgulho na liberdade.
Mas aquelas horas, naquela sala, passo-as a sós. Relaciono-me não me relacionando, frenética e suavemente dançando, sobre a linha marcada que une solidão e empatia.

A companhia é, por vezes, uma ilusão que a alma cria.

Desenhei o meu percurso e usei tinta permanente. Hoje, não consigo evitar, porém, fazer por diluir a escolha. Porque escolher trás responsabilidade e porque nunca ninguém me havia alertado com palavras, para a fatalidade do traço firme que esbocei enquanto a ilusão era jovem.

É nestes momentos que não consigo evitar dizer: gostava de voltar atrás e não escolher, deixar a vida acontecer...


mI

Photo "My heart in my hands" by Larafarie