sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sentir. O que sentir?

Senti. Incomensuravelmente, ontem menos ternamente, senti.

Felicidade, tristeza, paixão, dor, amor...senti tão excessivamente, que mesmo o ódio, afecção humana de tão cruel, se achou no fundo do meu ser.

Nunca em mim imaginei conter tal explosão. Até ao dia em que surgiu, inflamado tal paixão, esse ódio que corrói e se revela em ténues momentos de comoção. O ódio que deprime a expressão, exacerbou ontem em mim a confusão.

Na minha mente traçaram-se dois rumos a percorrer, duas estradas que se separaram bem junto ao coração.

Espreitei, vi de perto o prado verde que sempre foi meu e o mar imenso que sempre me acolheu.
Parei.
Espreitei, vi ao fundo uma luz de tom violeta, uma espécie de aura resplandecente que o receio despertou. Cor de novidade, de liberdade por mim, um dia para mim prometida.

Havia uma decisão a tomar.
Deixar o ódio ficar, para sempre o renegar, recalcar o que senti, sem nunca um dia acordar.
Levantar-me e dizer Adeus, adeus ao conforto, ao suave descanso da letargia, levantar-me e abraçar-me bem forte. Nova. Mas nunca esquecida.

Uma das vias segui. Digo hoje que o tormento que senti, tão dicotómico e tão desequilibradamente harmónico, me fez engrandecer. Fez-me sonhar, querer viver!
O ódio expulsei, abri o coração, não calei. As mais tenebrosas palavras proferi, em instantes de intensidade marcada, que ganharam asas tão rápido quanto levantaram voo.

Hoje, novamente, sinto incomensuravel e excessivamente.

Não sinto ódio, antes amor. Os dois continuam, de alma e coração, dançando coordenadamente ao som daquela nossa ritmada canção.
Bebem um do outro, têm sede de si mesmos. Transparecem na alma, explodem no coração, em conjunta existência que mesmo não querendo, perde sentido quando os dois não estão.

Mais uma vez, duas vias se traçaram. Calar a alma em mim? Sorrir, soprar, deixá-la voar?

Cheguei à conclusão de que o caminho tomado serve para, em crente ilusão, acreditar que escolhi. Porque escolher é sentir a apatia adormecer.
Não obstante o caminho lavrado, a comoção do ódio que destrói e a emoção do amor que constrói, convergem para um mesmo ponto, sem nunca perceber de que forma divergem por esse caminho fora.

Tome o caminho que tomar, sei, amanhã uma vez mais sentirei. A questão principal mantém-se ainda assim: tão exacerbadamente como hoje amei ou tão intensamente como ontem odiei?

Andando sobre brasas


mI

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